Em um contexto em que a imunização contra a Covid-19 está progredindo e a mobilidade entre cidades brasileiras está aumentando, as famílias de classes média e alta estão continuando a dar preferência aos serviços em vez da compra de bens no comércio nos últimos seis meses, de acordo com declarações de Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os serviços voltados para as famílias tiveram um crescimento de 1,3% em setembro em relação a agosto, marcando o sexto mês consecutivo de avanço, durante o qual acumularam um aumento de 52,5%.

“Esse movimento é mais pronunciado entre as famílias de renda média e alta. As famílias de menor renda direcionam uma parcela maior de sua renda para itens essenciais”, ressaltou Lobo.

Apesar da melhoria nos últimos meses, os serviços destinados às famílias ainda estão operando a um nível 16,2% abaixo de fevereiro de 2020, pré-pandemia.

“Nesses serviços voltados para as famílias, ainda há uma capacidade ociosa significativa”, lembrou Lobo. “A recuperação nesses serviços presenciais tem sido mais gradual e está operando abaixo dos níveis de fevereiro de 2020. A recuperação do setor de serviços tem sido impulsionada pelos serviços prestados a empresas, nos quais a questão da inflação não tem tanta relevância. Estamos vendo um aumento na receita onde os preços não têm influência”, afirmou.

O volume de serviços prestados no país diminuiu 0,6% em setembro em relação a agosto, com crescimento apenas nos serviços destinados às famílias. Houve quedas nas outras quatro atividades pesquisadas: transporte (-1,9%), outros serviços (-4,7%), informação e comunicação (-0,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%).

No momento, ainda não há um impacto perceptível da inflação sobre o desempenho dos serviços no país, com exceção do transporte aéreo de passageiros, que sofreu com o aumento nas tarifas aéreas em setembro, de acordo com Lobo.
“A pressão inflacionária que estamos vendo sobre os consumidores não está sendo refletida de forma tão incisiva nos serviços que estamos investigando”, explicou Lobo. “Não devemos confundir o efeito do preço sobre a renda das famílias, que é óbvio e dado, com o efeito do preço sobre os serviços prestados. Não estou dizendo que o aumento dos preços não tem impacto sobre a renda das famílias; ele simplesmente não tem tanto impacto na pesquisa de serviços como um todo. A inflação nos serviços está mais moderada. O efeito do preço sobre a Pesquisa Mensal de Serviços ocorre de forma que não afeta tanto o volume de serviços prestados quanto afeta o comércio”, completou.

O pesquisador do IBGE lembra que, embora o setor de serviços tenha mostrado recuperação desde junho do ano passado, os últimos meses trouxeram uma desaceleração no ritmo de crescimento.

Segundo ele, alguns segmentos estão demonstrando “fadiga” no processo de recuperação, mas a base de comparação elevada também influencia essa perda de ritmo nos serviços.
Para Lobo, é natural que a vacinação e a reabertura de estabelecimentos deixem as pessoas mais confiantes para consumir serviços presenciais. No entanto, o alto índice de desemprego, a dificuldade em aumentar a renda e a inflação podem limitar o crescimento futuro dos serviços prestados às famílias, alertou o pesquisador.

“As famílias podem se deparar com cenários nos quais não há consumo nem de bens nem de serviços. As pessoas podem precisar ajustar seus orçamentos para gastar em itens prioritários. O consumo de serviços é menos prioritário do que o consumo de bens essenciais”, ressaltou.

By Wesley